Estranhos no Paraiso
(...) Os tambores de guerra soam cada vez mais alto! Enquanto se tenta a todo o custo evitar uma guerra, os exércitos espalham-se estrategicamente, apertam o cerco, provocam pretextos, deslocam materiais de destruição... dolentemente, indiferente ao que se passa, grandes torres vão chupando das entranhas da terra um líquido viscoso, negro... os repórteres, hipoteticamente no centro da acção, esperam a altura exacta de transmitir a notícia!... no lado de cá do televisor, sentado calmamente numa poltrona, charuto na mão cravejada de anéis, uma forma informe, afaga miniaturas dessas torres, esperando a altura para premir o botão...
E tu Homem, será que vais continuar a avançar, com um encolher de ombros, indiferente ao que se passa à tua volta?...!
Sim, HOMEM, essa massa informe és tu, a tua indiferença, um pouco de ti mesmo, és tu na tua essência, a tua parte integrante do TODO a que chamas HUMANIDADE.
Abre os olhos, Homem, e vê…
“Trrr... estado crítico... tremores terra à escala mundial... trr... trrr ...grau 10... trrr ...destruídas ...trr… cidades do globo... trr... não temos contacto com... trr... trrr... biiiimmmm…” ...
Já não há televisão, nem sofá, nem fome, nem guerra, nem máquinas de morte, nem gritos de dor!...
Ano zero
Chove copiosamente!
...
Um Sol brilhante espreguiça-se no meio de farrapos escuros que se diluem no dia que nasce!...
No ar paira uma brisa perfumada!...
Dois pares de olhos azuis fitam-se, num mundo de mil promessas, num mundo que começa de novo...
José Gomes
26 Junho 2007