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Movimentum - Arte e Cultura

Movimentum - Arte e Cultura foi criado em Novembro de 1993. Ao longo destes 14 anos desenvolvemos trabalhos nos campos da Poesia, Artesanato, Exposições e Certames Culturais. Este blog pretende dar-lhe a voz que tem direito.

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Movimentum - Arte e Cultura

10
Mar06

Lembrei-me hoje de ANTÓNIO NOBRE...

zeca maneca

Nobre 3.jpg 

António Nobre


Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazulli e coral! prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

António Nobre nasceu no Porto numa manhã de Agosto de 1867.


Filho de uma família de recursos, estudou no Porto e tentou tirar o curso de direito em Coimbra. Inadaptado ao ambiente estudantil e à “fútil coimbrice desta cidade” acabou por terminá-lo em Paris.


Rapaz alto, magro e muito pálido, frágil e egocêntrico, encontrou o refúgio da saudade, do fatalismo e da morte na imensidão do mar, fazendo longas caminhadas desde a Foz do Douro até Leça da Palmeira. Foi aqui que passou as suas férias, irmanando-se com a Natureza, aprendendo com o mestre Oceano, seu confidente e amigo, com as histórias dos naufrágios e das tempestades...


A praia de Leça da Paslmeira, nessa altura, era frequentada pela fina flor da colónia inglesa então radicada no Porto. Foi aqui que conheceu os seus primeiros amores, viveu os seus romances e afagou o calor loiro dos cabelos doces das britânicas...


Desde muito novo, nos rochedos da Boa Nova batidos pela espuma das ondas do Atlântico, ou dentro de pequenos botes baloiçando na candura das águas, António Nobre declamou os seus versos, tendo como ouvintes atentos o oceano, ou as lindas moçoilas que lavavam no “Rio Doce” (Rio Leça, nessa altura límpido e pululante de vida).


“Oh Rio Doce! Túnel d’água e de arvoredo
Por onde Anto vogava em vagão dum bote...
E, ao Sol do meio-dia, os banhos em pelote
Quando íamos nadar, à Ponte do Tavares!
”


A sua poesia reflecte os conhecimentos, as crenças, as lendas, as músicas, as danças, as bruxas, as almas-penadas... conceitos que lhe foram transmitidos pelos pescadores e pelos aldeões. Vemos, sentimos e ouvimos as sachas, as ceifas e as vindimas da sua aldeia no Douro; sentimos o dedo da morte nos carpinteiros de caixões, nos enterramentos, nos cavadores e nos coveiros...


A sua obsessão pelo fim está retratada nos pedintes, nos paralíticos, nos gangrenados, nos moribundos que pululam a sua obra poética.


Influenciado pelos poetas e artistas europeus da sua época (especialmente britânicos e franceses) tornou-se uma figura típica, exótica na sua maneira de se vestir, passeando-se pelos areais de Leça até à Praia da Memória, envergando uma indumentária exuberante, adornos extravagantes, um livro debaixo do braço, com os cabelos pretos em desalinho e um pequeno buço aparado que aguçava ainda mais o seu rosto esguio.


Em Coimbra influenciou e foi influenciado por um pequeno grupo de amigos, intelectuais, poetas e sonhadores da época. Não se misturou com a chamada “boémia tradicional coimbrã”. Formou o seu próprio ciclo de intelectuais que o achavam “insolente como um príncipe e adorável como uma criança, olhos como estrelas...”.


Na última semana em Coimbra, antes de partir para Paris, deixou o Penedo da Saudade onde vivia, instalando-se numa das torres da muralha medieval, a Torre de Sub-Ripas, mais tarde conhecida por Torre d’Anto, hoje ex-libris da cidade. É desta torre que António Nobre descreveu a Coimbra outonal:
“... essa paisagem religiosa, milagrosa, o Mondego sem água, os choupos, meus queridos corcundas, sem folhas e vergados pelos anos, pareceu-me que estava num mundo extinto, todo espiritual, onde só um homem vivia, que era o Anto encantado na sua Torre”.


A tuberculose que o viria a vitimar e de que cedo se apercebeu, reflectiu-se na sua obra. A morte, a degradação, a tristeza e a solidão estão sempre presentes nos seus poemas, assim como a tragédia, os amores não concretizados, a solidão ...


Tentou a cura da sua "tísica galopante" em todas as principais cidades europeias, mas a doença, implacável, não respondeu aos tratamentos e venceu-o.


Em 18 de Março de 1900, na Foz do Douro onde vivia e com apenas 33 anos de idade, António Nobre, o autor de , deixou a sua costa de areias doiradas, os seus pôr-do-sol de cores matizadas, o seu mar verde esmeralda pintalgado com auréolas prateadas de espuma, os seus rochedos agrestes da Boa Nova e foi-se aconchegar “… na ‘Cova’ onde a Mãe o esperava para o prometido reencontro…”.


"Aqui, espero-te, há que tempo enorme!
Tens o lugar quentinho…".
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A Jó e eu dizemos com uma certa regularidade, mais ao menos teatralizado, o poema que se segue. aAs pessoas que o ouvem gostam... e nós também!
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MALES DE ANTO
(Meses depois, num cemitério)


ANTO:
Olá, bom velho! É aqui o Hotel da Cova,
Tens algum quarto ainda para alugar?
Simples que seja, basta-me uma alcova…
(Como eu estou molhado! É do luar…)


Vamos! Depressa! Vem, faz-me a cama,
Que eu tenho sono, quero-me deitar!
Ó velha Morte, minha outra ama!
Para eu dormir, vem dar-me de mamar…


O Coveiro:
Os quartos, meu Senhor, estão tomados,
Mas se quiser na vala (que é de graça…)
Dormem, ali, somente os desgraçados,
Tem bom dormir… bom sítio… ninguém passa…


Ainda lá, ontem, hospedei um moço
E não se queixa… E há-de poupá-lo a traça,
Porque esses hóspedes só trazem osso,
E a carne em si, valha a verdade, é escassa.



ANTO:
Escassa, sim! Mas tenho ossada ainda,
Enquanto que a Alma, ai de mim! Nada tem…
Guia-me ao quarto… (a Lua vai tão linda!)
Dize-me: quantos anos me dás? Cem?


Oh cem! E os que eu não mostro e o peito guarda…
Os teus mortinhos, sim! Dormem tão bem:
«Dormi, dormi! Que a vossa Mãe não tarda,
Foi lavar à Fontinha de Belém…»



O Coveiro:
Aqui. Fica melhor do que em 1.ª:
Colchão assim não acha em parte alguma!
Os outros são de chumbo, de madeira,
Mas este, veja bem, é sumaúma…


«Colchão de raízes e de folhas, liso,
Lençóis de terra brandos como espuma,
Dá-los-ei ao rol, no Dia do Juizo...»
Pronto. Quer mais alguma coisa? Fuma?

 


ANTO:
Mais nada. Boas noites. Fecha a porta.
(Que linda noite! Os cravos vão abrir…
Faz tanto frio!) Apaga a luz! (Que importa?)
A roupa chega para me cobrir…


Toma lá para ti, guarda. E ouve: na hora
Final, quando a Trombeta além se ouvir,
Tu não me venhas acordar, embora
Chamem… Ah deixa-me dormir, dormir!


             (António Nobre, in “”)







10 de Março de 2005


José Gomes


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"Poema"
Francisco Fanhais
Ilídio Rocha/Francisco Fanhais
CD: Dedicatória
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